quarta-feira, 1 de junho de 2011

Derreter o gelo

Ela não sabe que é linda. Desconhece o poderoso encanto de mulheres como ela. Discretas, sensíveis, de beleza serena. Que o corpo, que ela crê não ser nada de especial, é cheio de segredos. Intrigantes, deliciosos.
Já lhe partiram o coração, já sofreu por amor. Tinha baixado as defesas e padeceu de um duro golpe. Por isso, ela mantém-se em guarda, cerra os punhos à vida, faz-se de forte.
Ela gosta de pensar que me aceita de forma desprendida e lúdica. Que não se entrega completamente e que anda a servir-se de mim para satisfazer uma necessidade básica, de forma conveniente e casual. Que sou apenas uma relação de transição, e que fora da cama, pouco mais temos.
Mas ela mente a si própria, e eu minto-lhe também. Faço de conta que sou amante esclarecido e eficiente. Digo que estou pelo desafio do jogo, que ando a ver se subo a parada, como numa partida de poker.
Só que já não é mentira. Nunca foi. É tudo sentido, é tudo verdadeiro mesmo que fingimos parecer que não. Para obter a sensação sem a entrega, só é preciso um e não nos negamos a ser dois.
Se ela soubesse como ela pode ser fascinante e a facilidade com que pode cativar qualquer homem como o fez comigo, talvez ela deixasse de se questionar. Mas por outro lado, o facto de não o saber também tem o seu encanto.
Apenas gostaria de derreter mais o gelo à volta do seu coração, fazê-la admitir que somos um pouco mais que amantes casuais. Que não é só uma comichão difícil de coçar. Então eu dir-lhe-ia tudo o que penso quando a vejo, como a doçura dela invade o meu coração e me deixa cada vez mais apaixonado por ela. Em vez disso, aproveito para comunicar com o meu corpo tudo aquilo que ainda não lhe consigo dizer a voz alta. E aos poucos, vou sentindo que ela ouve e compreende. As suas feridas vão deixar de doer tanto e vai perceber que o amor não tem que doer para ser verdadeiro. Então ela vai olhar para mim e vai perceber que tudo aquilo que ela secretamente deseja, eu serei capaz de lhe dar. E até muito mais.

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