quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Doces Subtilezas

Tomás

Sim, tem sido um bocado difícil deixar de fumar. Nos primeiros dias então, parecia-me uma missão impossível, os pensos de nicotina e as pastilhas que mastigava sempre que me apetecia pegar num cigarro eram fraco consolo. Dois meses depois, por vezes ainda tenho fortes desejos de fumar, mas estes vão se tornando cada vez mais fáceis de suportar. Tantas vezes, basta apenas esperar aí uns dois ou três minutos e já não tenho vontade. Mas tem valido a pena, já noto que me canso menos e já não oiço a Rita a queixar-se de que me beijar é como se estivesse a dar um linguado num cinzeiro. E se eu meti na cabeça que ia deixar de fumar, é o que eu vou fazer. Nunca se sabe para o que estamos guardados, se até a alguém como o Pedro pode lhe acontecer uma porra daquelas. 
E agora em retrospectiva, compreendo que o facto de eu fumar tanto era porque cedia rapidamente a esses desejos, que talvez conseguisse reprimir se eu fosse um pouco mais paciente. Todos nós somos um poço de contradições, e uma das minhas é ser tão impaciente e querer que as coisas aconteçam imediatamente mas ao tempo eu sei que é com calma e gradualmente que consigo fazer acontecer aquilo que eu quero.

E tu, quando é que fazes algo quanto à tua resolução? Ainda não vi nada. Claro, eu compreendo que é complicado quando a rapariga que tu gostas é a irmã do teu patrão,  ainda que este seja teu mentor e amigo. Também sei que o Pedro é todo boa onda e descontraído, mas fica melindrado quando o assunto são as três mulheres da vida dele - a mãe, a filha e a irmã. E que a única relação que mais tiveste parecido com um namoro deixou-te más recordações. Mas ainda assim, acho que devias tentar, dá para ver que a Cláudia engraça contigo e se ela se aperceber que podes ser mais que um amigo, não ficará desiludida. Por isso deixa de ter medo de errar, activa o modo romance e sai da friendzone, senão aí é que nunca passas de amigo e é outro que a apanha. Em várias coisas, tu e a Rita são muito parecidos. Quietos, reservados, introvertidos, não muito dados a socializar mas extraordinários assim que alguém vos conhece um pouco melhor. Bem mais extraordinários do que vocês pensam que são.

Sabias que mesmo quando andávamos naquela fase da amizade colorida e que pensávamos que o que havia entre nós não seria mais que tusa, a Rita não acreditava quando lhe dizia que ela era tão sensual? Apesar de não ser inexperiente sexualmente, ela nunca se tinha visto como alguém que pudesse deixar um homem em brasa e fazê-lo imaginar uma noite de tórrida paixão com ela. Acreditava que podia cativar pela simpatia, pela inteligência ou por ser "engraçada e fofinha", mas não por ser sensual. Mesmo quando lhe dizia o quanto ela me excitava e tendo como prova a minha tenda toda armada mal a abraçava contra mim. Ainda demorei a convencê-la que a sensualidade pode ser algo muito subtil e que só porque não seja explicitamente exibida não significa que não existe. Surpreendida pelos meus avanços e lisonjeada por haver alguém a olhá-la dessa forma, ela entregou-se a mim sem reservas e quem se surpreendeu fui eu, que a desejava cada vez mais. E a Rita percebeu até que eu não era o único a captar aquelas doces subtilezas que me deixavam tão louco por tê-la sob mim.  
É óbvio que ao princípio, nós os dois pensávamos que isto não ia durar, que era só sexo,  e que era só para tirar a barriga de misérias após as nossas últimas relações e que a chama iria eventualmente apagar-se tão depressa como se acendeu. De modo algum pensávamos que iríamos acabar por nos casar três anos mais tarde. Como estávamos enganados!

Por isso, não tenhas receio. Quem sabe se a Cláudia não vê em ti coisas que não consegues ver por ti próprio e perceba que é de alguém como ti que ela anda à procura. Pelo menos sabes que não vais saber a cinzeiro se a beijares.  

Fica bem!

Francisco