quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Terra Sem Lei


O ar quente das noites de Agosto penetra pela janela e incendeia ainda mais os nossos corpos. Não há centímetro dos lençóis que não estejam entranhados em suor. 
As mãos dela flutuam pelas minhas costas, os seus olhos cerram para voar enquanto eu conduzo-a uma imersão cada vez mais profunda. Estou prestes a abdicar da única réstia de controlo que ainda me sobra mas ela parece uma vez mais decidida a que eu o perca por completo. Extasiado pela deliciosa simplicidade do seu corpo que o suor parece fazer reluzir, perco finalmente as estribeiras e obrigo-a a acompanhar o meu ritmo cada vez mais frenético.

Abrando apenas por um momento, deitando-me em cima dela e sentindo os seus mamilos premidos contra o meu peito, para lhe sussurrar ao ouvido: "Vem-te". Abrindo-me os seus enormes olhos âmbar, ela aceita o desafio e ao entregar-se, arrasta-me comigo. Num último assomo, esvazio-me dentro dela. 
Depois do êxtase, é como se emergíssemos de novo e respirássemos pela primeira vez em séculos. Sinto que os meus ossos derreteram e sou uma massa disforme, suada e pegajosa que se deita sobre o corpo dela. O prazer é ainda imenso nestes minutos em que resgatamos a calma e aguardamos que a energia nos regresse.

Há mulheres que são raios ultravioletas disfarçados de flocos de neve. Que escondem tanto calor sob uma nuvem aparentemente fresca e vítrea. Devia saber disso antes de ela me dar a chave do seu jardim secreto e o seu toque me revelou que ela era muito mais do que os seus subtis encantos que me intrigaram à partida. E é esse tipo de mulheres que tanto medo causa aos homens: o medo de não as saber descrever, categorizar, antecipar os seus gestos. Mas apesar da confusão que ela me causava, nunca fui medroso e não seria agora que eu iria sê-lo. Por isso deixei-me levar. 
Antes dela, só conhecia dois tipos de sexo: aquele que é desde logo animalesco e obsceno e o outro mais sereno e que se pede cheio de bom gosto. Nem sequer posso dizer que com ela é um meio-termo entre os dois, é como que uma nova categoria. Eu curto, ela curte, nós curtimos, tudo muito aprazível e muito gostoso mas quando a intensidade sobe, é escaldante, é desenfreado, por vezes até excessivo mas nunca é vulgar ou exagerado. 


Ao recuperarmos as forças, procuramos o ponto mais fresco da cama. As suas costas colam-se ao meu torso e eu passo um braço sobre o peito dela e assim adormecemos. O seu sorriso tem tanto de devasso como de inocente enquanto se deixa acolher pelo sono, sem me revelar o que se esconde naquele sorriso nos cantos da boca. Estaria a mentir se eu não dissesse que estar com ela é como estar numa terra sem lei onde qualquer definição parece irrelevante e que isso me deixa inquieto. Nem sequer sou capaz de definir o que ela é para mim, amiga, amante, namorada, desvio de percurso. 
A ter uma única certeza é a de que o nosso sexo não é casual. Foi desde logo do mais sério que pode haver. Isso devia-me assustar, bem como a sensação que ela me prende num feitiço, de que me faz caminhar fora de solo firme. de que estou nas suas mãos. Só me conforta saber que o seu pulso acelera ao meu toque como o meu sobre as suas carícias. Mas para ser sincero, estou bem menos assustado do que deveria estar. Talvez porque vou aprendendo que há certas coisas que não foram feitas para serem definidas, mas para serem sentidas.