segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Jogar na Raspadinha

Com que então a assobiar a "Mrs. Robinson"? Não é do teu tempo, mas na minha adolescência saiu uma versão dessa canção na versão dos Lemonheads, cujo vocalista Evan Dando não ficava nada a dever ao Kurt Cobain e ao Eddie Vedder na categoria "roqueiro podre de bom, embora desgrenhado e com ar que não toma banho há dias".

Mas não admira que andes todo inchado. Afinal, para um rapaz de 24 anos, encantar uma trintona jeitosa é subir a outro nível. E sentes-te todo orgulhoso disso e super macho, até porque eu tenho muito mais pedalada que as miúdas que já engataste. Sim, porque hoje em dia, as raparigas já são umas matulonas aos 16 anos (não sei que fermento andam a meter nas papas) e costumam desde cedo ter muito rodagem e engenho, mas a arte do amor só se alcança quase sempre com a sabedoria da idade. E eu fui-me encantando por ti, por seres bonito, por teres piada, por ainda teres a ilusão que tens o mundo na palma da mão, porque os teus genes e o teu berço abençoaram-te com uma vida relativamente despreocupada. E no entanto, tens sabido ser homenzinho quando é preciso, e não só na cama. Não sei se isto vai dar em algo mais do que aquilo que temos agora, nem quero saber. Além disso, desde há muitos anos que tenha a minha independência e gosto de viver só para mim. Não me consigo imaginar a dividir o meu território com qualquer macho, por isso em vez de jogar no Euromilhões para uma reduzida chance de encontrar aquele que um dia me fará mudar de ideias, jogo na raspadinha. É só raspar, ver se há prémio e toca a andar, senão paciência.

Se calhar sou eu que tive um azar e só conhecei três tipos de homens: os pelintras que até podem amar uma mulher mas que não conseguem manter-se fiel a nenhuma, os tiranos que só sabem lidar com as mulheres submetendo-as à violência das palavras e das pancadas, e os pantufas que não se importam de ser mandados pelas suas mulheres para não haver chatice. À minha irmã, saiu-lhe na rifa exemplares dos dois primeiros tipos: casou com um pelintra que a deixava sozinha em casa com um filho nos braços para ir para a borga e depois ainda sofreu nas mãos de um tirano. Felizmente que ela pulou fora ao primeiro tabefe que o estafermo lhe deu, mas este já tinha conseguido abrir-lhe algumas feridas na alma que demoraram a sarar. 
Já os pantufas não me incomodam, talvez por que o meu Pai tenha sido um deles. Ele pode ter sido todo um manda-chuva  top dog no seu trabalho, mas em casa a minha Mãe é que mandava, ele deixava e têm sido felizes assim. E não levas a mal se eu te disser que te imagino no futuro como ele, dada a tua pachorrice e a anuência quando eu tenho de me armar em mãezinha contigo (ao andar com um rapaz treze anos mais novo, sabia que não havia como evitar esse papel de vez em quando). Consigo imaginar-te a chegares a casa, a tirar a gravata, a calçares as pantufas e movimentares-te consoante as rédeas do lar guiadas pela tua esposa, que com um pouco de sorte talvez não seja uma chata.

Diz quem sabe que existe o quarto tipo, o do homem a sério. Pelo que vejo de certos maridos e namorados de algumas amigas e sobretudo pelo meu primo Jorge, que tem sido sempre o irmão que eu nunca tive, sei que não é um mito e com uma pouco de perspicácia, até pode ser que não existam tão poucos como isso. Se calhar nunca tive foi muita sorte na raspadinha. Seria óptimo que me saísse um dia um homem disfarçado de grande prémio, mas não posso viver a minha vida em função da esperança que isso aconteça, ainda mais com esta idade. Em vez disso, vou aproveitando os pequenos prémios. E tu, meu puto engraçado que assobia a "Mrs. Robinson", tens sido um prémio que tem valido a pena raspar. Pode parecer pouco, mas vindo de mim é um grande elogio.

    



  

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Aprender a Namorar

Pedro

Ainda não sei bem para onde vai isto que tenho com a Sandra. Mas pelo menos já sei que se pode chamar um namoro. Descobri na festa de Réveillon onde fomos com o Francisco e a Rita quando as doze badaladas foram a banda sonora de um longo beijo que trocámos. Não consigo imaginar uma melhor maneira de entrar num novo ano. Foram precisos trinta e dois anos de vida e vários acidentes de percurso para aprender o que é namorar. Se calhar por isso é que essas sensações fazem-me sentir como se tivesse dezasseis anos, pois só poder passear de mão dada com ela faz-me acelerar o pulso.
Só por isto, já valeu a pena estar com a Sandra. Descobrir a ternura de pequenos gestos, trocados sem marcação nem motivo. Sentir um doce conforto em ter o outro ao nosso lado, mesmo sem tocar ou cruzar olhares. Habituarmo-nos ao conforto de amar um corpo que se conhece mas que ainda oferece novas possibilidades e vários níveis de intensidade. Dizer o que nos vai na alma sem medo do ridículo. Depois de uma mulher que tinha um ninho de vespas em vez de coração e outra que tinha o seu fechado para obras, é reconfortante encontrar uma que ousa acolher-me no coração.

Mas não sou parvo e sei que nem tudo são rosas. Como todas as mulheres, a Sandra tem os seus caprichos, mistérios e momentos WTF, e já tive que aparar uns golpes e refogar alguns azeites. E sobretudo, ser um apoio para ela, ser um homem. Claro que nem sempre acerto, mas eu vou com calma. Melhor que ninguém, eu sei que ser feliz dá trabalho. Não foi por obra e graça do Espírito Santo que perdi todos aqueles quilos, mas sim com muitos sacrifícios, privações e forças a sítios onde nem sequer sabia que tinha de buscar. Aliás, nunca nada na vida me foi dado de mão beijada. Por isso, vai ser preciso muito para eu esmorecer. Mais do que estar a viver um romance (com o seu quê de escaldante) com uma mulher gira e fantástica, adoro sobretudo o facto de eu ser a pessoa que sempre quis ser quando vivesse algo assim e de eu não recear certas coisas que antigamente me encheriam de dúvidas e ansiedade. Mais do que me fazer apaixonar por ela, a Sandra conseguiu fazer-me apaixonar por mim. E não há nada melhor que isso. Por isso, não me preocupo se este namoro é para durar ou será um breve conto. 

Miguel

P.S.1: Já sei que sabes da Cláudia e do Tomás. Vá lá não sejas mauzinho para o puto, que ele anda cheio de medo. E olha que depois de tantos estroinas com que a tua irmã andou, já era tempo de ela se agarrar a um tipo decente.
P.S.2: Feliz Ano Novo. Outro dos motivos pelos quais este foi o meu melhor Réveillon foi por saber que estás de novo bem, vivo para ver chegar um novo ano.