quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Q4

Não me fales do Verão tímido nem do princípio de Outono descarado.
Não me fales de política nem de futebol.
Não me contes dos horrores por esse mundo fora nem das comédias românticas impressas nas revistas.
Não me digas quantos segredos têm a casa nem quantas letras tem o factor.
Não me fales do cansaços perenes nem das azias do tempo, dos engarrafamentos e das greves dos transporte.
Não me lembres que o ano está no seu último trimestre e tanto ficou por fazer.

Senta-te apenas comigo, sem pressas e pega-me na mão.
E aí podes falar das árvores a despirem-se de folhas,
de como vai ser bom tentar enganar o frio com fofas camisolas de lã,
ou podermos dormir uma hora a mais na noite da mudança para  hora de Inverno.
E que vem aí o Natal, o Ano Novo e tantos feriados que deixaram de o ser.

Numa era em que as estações do ano pareceram entrar em esquizofrenia,
nada como confiar na arrumação dos calendários,  a repartição entre dias, semanas, meses e trimestres.
Cada tem quatro trimestres, quatro quartos e estamos agora à porta do último,
o Q4.
É certo e sabido  que o tempo que o tempo nunca para
e nos rouba tantas horas que gostaríamos de recuperar
e nos faz lembrar de tanta coisa que podíamos ter feito e não fomos capazes.
Por isso, fala-me de fins e recomeços.
De portas que se fecham e janelas que se abrem.
De lareiras para espantar o frio e de gelados para combater o calor.
Porque o Q é uma letra que se lê
e a vida não foi feita para ser passada em silêncio.