segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Reles

Não sei exactamente com quantos homens já dormi. Cem? Duzentos? Eu sei lá, chegou uma altura que já não tive coragem para fazer contas. Foram muitos mais do que aqueles que deviam ter sido, e isso é que interessa.
Se eu fosse homem, suponho que seria um herói. Haveria aqueles, sobretudo mulheres, que me chamariam tarado e vadio, mas outros, sobretudo homens, olhar-me-iam com admiração e reverência. Seria o supra-sumo da virilidade, o macho dos machos, um deus sexual. Mas como sou mulher, na melhor das hipóteses, sou considerada uma excêntrica. E na pior, uma puta do mais reles que há.
A bem-dizer, essa palavra de quatro letras não se aplica literalmente a mim. A minha profissão não é a mais velha do mundo, e embora algumas vezes tenha-me sido oferecido dinheiro pela pernoita, eu nunca aceitei. Como de uma vez que quando acordei com uma nota na mão, que fui dar logo ao primeiro mendigo que eu vi. Mas obviamente que num sentido mais lato é o que eu sou.
Posso dizer que sou uma viciada em sexo, que o sexo pode provocar uma dependência e uma "pedrada" tão forte como qualquer droga que se possa mencionar, que momentos houve onde o que me interessava era saber onde é que a próxima vez que irei foder, em busca do êxtase que desaparece tão depressa como surge. (Quando ainda surge...) Mas como poderão ver o meu sofrimento, se só me vêem é tentar engatar da forma mais óbvia e oferecida? Ainda por cima, vivemos numa altura em que a dependência do sexo é sobrediagnosticada, em especial a celebridades que vêem as suas taras privadas tornarem-se públicas.
Mas porque é que me tornei assim, não sei dizer ao certo.  Sempre me disseram que eu sou bonita, mas nunca me senti bonita. Sei que tenho bons atributos, físicos e não só, que captam a atenção de qualquer homem mas estou sempre duvidar disso, e só consigo acreditar quando alguém se aproxima de mim. E na minha mente, só podiam se aproximar de mim para o sexo, que mais poderia ser? Só com sexo, teria namorados, sentir-me-ia bonita, sensual, desejada, amada, só com sexo eu prestava...E aos poucos, deixei que se aproveitassem de mim, que me usassem, tornei-me mais descartável que uma pastilha elástica. Alimento a ilusão que é que estou em controlo, eu é que dou o primeiro passo, eu é que seduzo, mas na verdade já perdi o controlo de tudo, o vício é que me controla.
Nem sequer posso justificar-me com um trauma do passado, como abusos sexuais ou a um pai ausente ou violento, como é habitual em tantos casos como o meu. Tive uma infância inconsequente mas relativamente feliz e tive pais sempre atenciosos e carinhosos.No fundo, pura e simplesmente não consigo gostar de mim e andei sempre em busca da validação.
Pois eu sei, o tal slogan do leite, se eu não gostar de mim, quem gostará...mas é mais fácil falar do que fazer. Não tive só sacanas na minha lista, também houve tipos decentes, se calhar alguns que gostavam mesmo de mim, e que os afastei por não acreditar que alguém pudesse gostar de mim a não ser para me saltar em cima. Não gosto de mim o suficiente ao ponto de não ter vontade nem força para me deixar disto e conservar a pouca dignidade que me resta. Para começar a olhar-me de outra forma e fugir deste caminho que me empurra para o abismo. Provavelmente já é tarde demais para mim, mas não consigo deixar de sonhar que um dia, alguma luz irá penetrar no escuro do meu ser e à força de me encadear tanto os olhos, eu veja tudo de maneira diferente. E eu me veja como bem mais do que a puta reles que eu me conformei a ser.

Sem comentários: