segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Pouso e Repouso

A porta está aberta. Entra sem fazer barulho,
deslizando a tua sombra pela meia-luz.
Os meus braços já te acolhem,
os meus lábios já te esperam,
podes respirar fundo.

Soubeste esperar-me,
desejar-me
e sentir-me.
Calei os medos e os fantasmas.

As palavras bonitas são preciosas,
não as desperdices.
Já ouvi tantas dessas palavras
serem atiradas pelas janela fora
como papel de Monopólio
amarrotado na arrecadação.

Diz-me apenas uma mão mal cheia delas
que eu te direi outras tantas,
podem ser poucas
mas vais ver que te vão valer de muito.
Guarda-as numa arca,
para abrires e revires
quando sentires que já não te digo nada. 

Senta-te no sofá,
pousa a cabeça no ombro.
Deixa-me agora ser pouso e repouso
das desventuras dos sentimentos.
Sim, dizes coisas que não sentes
tal como escondo as marés de ternura
que eu digo não ter.

Ainda há pouco, a porta estava trancada
mas bateste de mansinho,
e eu arrumei as estantes
puxei os lustros
antes de rodar a fechadura.

Podes ficar quanto tempo quiseres
voltar quando te apetecer
para ti não vai haver trancas na porta
mesmo numa casa arrombada
é triste viver só.

Palavras bonitas são preciosas,
não vou desperdiçá-las em mim,
dá-me algumas para a troca.
Eu posso não dizer-te muita coisa,
mas quando digo
é para dizer mais do que falo.

Podes respirar fundo.
Chegaste aonde os meus passos te levaram.
Desliza a tua sombra  pela meia-luz.



Sem comentários: