quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Olimpismo está em nós


O Olimpismo é algo que me apaixona desde que me conheço. No entanto, dada a minha ausência de talento para o desporto e de meios para deslocar-me às cidades que organizavam os demais Jogos Olímpicos, sentia que seria esta uma paixão confinada aos meus sonhos mais utópicos. A minha experiência como voluntário nos Jogos da Lusofonia 2009 em Lisboa e nos Jogos Desportivos da CPLP 2012 em Mafra ajudou porém a fazer com que esses sonhos não fossem tão distantes, até porque, sem o saber concretamente, pude assistir nesses eventos a várias manifestações dos valores olímpicos: a excelência, o respeito e a amizade.

Esse sonhos ficaram ainda mais próximos quando assisti a uma sessão da Academia Olímpica de Portugal em Almada e me vi rodeado de pessoas dos mais diversos quadrantes que partilhavam a minha paixão pelo Olimpismo. Quando eu soube do concurso de bolseiros para Sessão de Jovens Participantes da Academia Olímpica Internacional de 2013, que oferecia a oportunidade de ir a Olímpia, o berço dos Jogos Olímpicos, e conviver com jovens do mundo inteiro, não hesitei em participar. Quando recebi a carta a dizer-me que eu seria um dos dois representantes portugueses na Sessão, mal podia acreditar, tive que reler a carta mais vezes. Foi uma espera ansiosa até ao dia 11 de Junho, quando embarquei rumo à Grécia.

Quaisquer adjectivos que possam descrever as duas semanas que vivi em Atenas, Delfi e Olímpia parecem tão insignificantes diante tudo o que me foi permitido sentir e experimentar. Éramos mais de 160 jovens de 81 países, de diferentes realidades e percursos de vida, de atletas olímpicos e paralímpicos a académicos, treinadores e gestores. Porém, aquilo que nos diferenciava perdia importância diante daquilo que nos unia, ao ponto de nos parecer estranho que a Humanidade tenho sempre erguido muros ao longo dos tempos a diferenciar as pessoas - nações, religiões, raças, géneros - quando basta apenas uma palavra, ou até um sorriso, para os derrubar.

No ano do 150.º aniversário do nascimento de Pierre de Coubertin, o tema da Sessão foi o Legado Olímpico e como ele pode influenciar e fortalecer a juventude atual. Imersos na herança cultural da Grécia Antiga, atentos aos conhecimento adquiridos nas palestras, contagiados pelo entusiasmo dos nossos coordenadores, dedicados às diversas actividades desportivas, artísticas e lúdicas, inquisitivos na reflexão dos temas que surgiam nos grupos de discussão, acabámos por descobrir que o legado olímpico está em nós. Os valores olímpicos da excelência, do respeito e da amizade, que vivemos nestas duas semanas de forma tão palpável que até parecia bastar respirar o ar de Olímpia, estavam em nós. Ao vivermos segundo estes valores pelos meandros das nossas vidas, estaremos a promover o Movimento Olímpico e a transmitir o seu legado para o futuro.

Ao longo da sua história, os Jogos Olímpicos deixaram inúmeros legados, positivos e negativos, materiais e imateriais, sendo cada qual uma lição que as gerações vindouras devem aprender. Mas mais do que o impacto organizativo positivo de uns Jogos Olímpicos, as proezas incríveis dos atletas ou mesmo a promoção do desporto, da saúde e do meio ambiente, o verdadeiro sucesso do Movimento Olímpico será inspirar cada geração a lutar por um mundo melhor, dando o melhor de si e deitando abaixo as barreiras que teimam sempre em separar as pessoas. Tal como o fizemos em Olímpia.

Na hora da despedida, não evitámos as lágrimas. Ao fim daquelas duas semanas, passámos de estranhos a amigos. Agora éramos todos portugueses, gregos, sírios, guatemaltecos, japoneses, chilenos, australianos suazis. Todos cristãos, muçulmanos, budistas, judeus, ateus. Todos desportistas, poetas, professores e bailarinos. Todos humanos, pois os valores olímpicos são os valores da Humanidade. Mesmo se as nossas vidas nunca mais se voltarem a cruzar, pelo menos guardaremos as memórias de Olímpia, que perdurarão para o resto da vida. Tal como a vontade de viver a vida pelos valores do Olimpismo e fazer com que o seu legado seja cada vez mais forte. Viemos de tão longe, para perceber que o Olimpismo sempre esteve em nós.  

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