terça-feira, 31 de julho de 2012

O melhor sítio

Agora que as minhas noites são feitas de escuridão profunda,
creio que posso dizer que já te esqueci.
Ainda não há muito tempo,
bem que podia fugir de ti,
tomar os caminhos mais longos,
redigir mentalmente listas de coisas a fazer,
funcionar hipnoticamente em modo piloto automático,
que voltavas sempre ao meu âmago. 

Qualquer sucesso obtido à luz do dia
estilhaçava-se nos sonhos onde surgias sempre para me assaltar o espírito, 
trazendo de novo a dúvida de tudo aquilo que poderia ter sido.
The one that could have been...

De que valeria convidar outras para a cama, beber à exaustão e recorrer a psicotrópicos,
se acabavas sempre por me encontrar para além da consciência?

Por essas e por outras, acho que a força de vontade é um mito.
Se a vontade movesse montanhas, eu seria um deus de paisagens transformadas,
mas eu não te conseguia esquecer
por mais que eu quisesse.

Foram medonhos os despertares feitos de almofadas mordidas,
suores frios e até alguns géiseres de desespero,
ao ponto de viver com temor da hora de adormecer.

Mas agora as minhas noites são feitas de águas turvas,
onde a luz do desejo não penetra,
onde o silêncio afugenta os choques eléctricos,
onde posso afundar o meu coração de pedra.
Onde dá para fingir que os meus pulmões são guelras
onde o esquecimento enverniza as fendas
dos espíritos inquietos. 

Não é um sítio bonito
nem planeio  fazer dele meu  albergue eterno dos tormentos
mas agora é o escuro é o melhor sítio onde eu podia estar.
Por enquanto...  

  

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