segunda-feira, 21 de março de 2011

Mágicos Cansaços

Subir as escadas, rodar a fechadura, pendurar o casaco.

Se Fevereiro é o mês mais curto do ano, porque é custa tanto a passar?

Ligar o micro-ondas, aquecer a lasanha comprada em take-away, sentar-me no sofá, ver letargicamente o telejornal. Estou cansado e não sei porquê.

Esconder umas fotos, sair para a rua, esperar que ela faças as malas e vá embora.

Lavar a loiça, arrumá-la, pôr a camisa no cesto da roupa suja, lavar os dentes, vestir o pijama, deitar-me na cama, marcar o despertador.

Já nada resta.

Hoje é um daqueles dias em que vivo sem estar vivo. Todos nós temos dias assim. Somos a rotina a arrastar o corpo, a pintar sorrisos de amarelo e a encher o cérebro de trivialidades prontas a serem despejadas.

Esta foto foi de quando fomos a Óbidos. Estava um belo dia e tinhas o cabelo ao vento, percorrendo a muralha a passo de donzela.

Também tu terás dias em que te arrastas por uma lista mental de tarefas e dás contigo na cama num cansaço inexplicável, sem saber o que fizeste de tão extenuante. Quando me dá para a lamechice, dou por mim a desejar que estejas infeliz e a almadiçoar o dia em que decidiste que eras mais feliz sem mim. Como canta a loura dos ABBA em "One of us".

Sorry for herself, feeling stupid, feeling small, wishing she had never left at all.

Mas não, já não desejo isso. Por mais que sinta a tua falta, aceitei que tu já não voltas e que ao fim de muitas vírgulas, finalmente surgiu entre nós o ponto final. Para alguns, o fim do amor é o fim da vida. Para outros, a oportunidade para novas caças. Para mim, é como as fotografias que não levaste. Pedaços de momentos perfeitos condenados a uma memória agridoce.

Dançámos sob o céu do fim da tarde, quando a noite prometia um refúgio e um deslizar de beijos.

O que vale é que sei que após dias letárgicos, há de haver dias para preencher a alma. Para ser mais forte do que qualquer estranho cansaço.

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