quarta-feira, 4 de maio de 2011

Balada das 6 e meia da manhã

A música que explodia das colunas deu lugar à calmaria exterior e ao tímido chilreio das aves madrugadoras. As luzes intermitentes e o lasers coloridos perderam-se na retina, e o escuro da noite começa a ter os primeiros rasgos de um sol por nascer. A hora do lobo, onde não há fronteira entre o dia e a noite.
Mal abriram os portões da estação de Metro, nós, como os outros animais temporariamente noctívagos, deslizámos cartões e descemos as escadas rolantes, onde já esperavam as carruagens. Tal como lá fora, um relativo silêncio embalava o desfiar dos minutos. Como se o encanto fosse quebrado, caso alguém falasse alto.
Lá estávamos nós, os mesmos de sempre. Exaustos mas mantendo o sorriso da noite. Assim que nos sentámos na carruagem e o Metro iniciou a primeira viagem do dia, quase todos cederam ao apelo pesado das pálpebras e seguiu viagem de olhos fechados. Só eu mantive os olhos abertos, fitando absortamente a sucessão de túneis escuros e luzes difusas das estações. Cada um de nós foi saindo na estação mais conveniente. Quando chegou à minha vez, a madrugada já se anunciava lentamente num rastilho de sol.
Ao fechar as persianas e apagar todas as luzes do meu quarto, tive a sensação que tinha trocado as voltas ao tempo. Como se vivesse num universo paralelo, onde o acordar da noite vem num sopro de vida e a luz do dia indica o caminho para encostar a cabeça e procurar a euforia do sono.

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